segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Letramento Literário: o conceito


Um livro para compreender o letramento literário de Graça Paulino
Cristina Maria Rosa

O termo "Letramento literário" foi criado por Graça Paulino. Em seu livro “Das Leituras ao Letramento Literário” a autora evidencia a origem e a história desse conceito tão importante para quem estuda e ensina a literatura. O termo foi inserido no Glossário CEALE (2014). Nele, lê-se que

"Letramento literário é o processo de apropriação da literatura enquanto linguagem . Para entendermos melhor essa definição sintética, é preciso que tenhamos bem claros os seus termos. Primeiro, o processo, que é a ideia de ato contínuo, de algo que está em movimento, que não se fecha. Com isso, precisamos entender que o letramento literário começa com as cantigas de ninar e continua por toda nossa vida a cada romance lido, a cada novela ou filme assistido. Depois, que é um processo de apropriação, ou seja, refere-se ao ato de tomar algo para si, de fazer alguma coisa se tornar própria, de fazê-la pertencer à pessoa, de internalizar ao ponto daquela coisa ser sua. É isso que sentimos quando lemos um poema e ele nos dá palavras para dizer o que não conseguíamos expressar antes” (COSSON, 2014. Disponível em: http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/letramento-literario)

Graça Paulino
Intelectual mineira dedicada à formação de professores e à reflexão sobre leitura literária em sua dimensão social, no livro Das leituras ao letramento Literário (1979-1999), Graça apresenta concepções sobre a leitura e a literatura – inicialmente – e o letramento literário, logo depois, indicando o ineditismo como pesquisadora.
Coletânea de artigos que Graça Paulino publicou entre 1979 e 1999, a obra indica quando a expressão “letramento literário” foi apresentada publicamente pela primeira vez: na reunião anual da ANPED – Associação Nacional de Pesquisa em Pós Graduação em 1999.
O tema abordado – letramento literário – é conceituado como um “processo ativo de apropriação da literatura enquanto construção literária de sentidos”. Para Graça, “o letramento literário configura a existência de um repertório textual, a posse de habilidades de trabalho linguístico-formal, o conhecimento de estratégias de construção de texto e de mundo que permitem a emersão do imaginário no campo simbólico”.
Composta por 20 artigos, a obra de Graça inicia com a publicação de um dos capítulos da dissertação e passa por diferentes ensaios sobre o livro e o leitor, práticas de seleção de leitura e a função da literatura para crianças. Em seus artigos, a pesquisadora discute a questão da falta de leitura do ponto de vista da teoria da leitura literária, questiona as funções da literatura infantil, indaga sobre como e por que lemos poesia agora e analisa criticamente a formação de professores, a iniciação e a construção do leitor. Como se pode observar, questões pertinentes ao universo da leitura e da formação do leitor em suas relações com a escola e a sociedade. É um passeio pelo que há de melhor na crítica literária e uma aula para a formação de um intelectual.
Ao questionar e responder “Para que serve a literatura infantil?”, a autora aborda, com coragem, uma instigante questão que envolve a produção e a circulação de um formato específico de arte: a literatura para crianças no Brasil. E afirma: “Não há e nunca houve uma verdadeira arte que valesse o mesmo para todos no mundo, em todas as épocas, porque as pessoas têm expectativas, preferências e repertórios diferentes. Além do mais, há as diferenças de critérios de valor que dependem fundamentalmente de cada época histórica” (PAULINO, 2010, p. 129).
Nos dois últimos artigos que estão inseridos no livro, Graça aborda mais aprofundadamente o termo criado por ela, Letramento Literário. São eles: “A formação de professores leitores literários: uma ligação entre infância e idade adulta?” e “Letramento literário: cânones estéticos e cânones escolares”.
Leia o livro, ele é raro, importante e composto por artigos selecionados, uma a um, pela autora, uma vez que registra 20 anos de sua produção. 

Um comentário:

Mariana Carvalho disse...

Boa noite Cristina,
Você sabe onde eu posso encontrar esse livro da Graça Paulino? Já procurei e não acho para comprar...

Alfabeteando...

Um "Alfabeto à parte" foi criado em setembro de 2008 e tem como objetivo discutir a leitura e a literatura na escola. Nele disponibilizo o que penso, estudos sobre documentos raros e meus contos, além de uma lista do que gosto de ler. Alguns momentos importantes estão aqui. 2013 – Publicação dos estudos sobre o Abecedário Ilustrado Meu ABC, de Erico Verissimo, publicado pelas Oficinas Gráficas da Livraria do Globo em 1936; 2015 – Inauguração da Sala de Leitura Erico Verissimo, na FaE/UFPel; 2016 – Restauro e ambientação da Biblioteca na Escola Fernando Treptow, inaugurada em 25 de novembro; 2017 – Escrita da Biografia literária de João Bez Batti, a partir de relatos pessoais. Bilíngue – português e italiano – tornou-se um E-Book; 2018 – Feira do Livro com Anna Claudia Ramos (http://annaclaudiaramos.com.br/). 2019 – Produção de Íris e a Beterraba, um livro digital ilustrado por crianças; 2020 – Produção de Uma quarentena de Receitas, um livro criado para comemorar a vida; 2021 – Ruas Rosas e Um abraço e um chá, duas produções com a UNAPI; 2022 – Inicio de Pesquisa de Pós-Doutorado em acervos universitários. Foco: Há livros literários para crianças que abordem o ECA? 2023 – Tragicamente obsoletos: Publicação de um catálogo com livros para a infância.

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