segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Em busca de Estrelas e um Abecedário na UFRGS

Cristina Maria Rosa


Entre 2014 e 2016 atuei, como professora na área da linguagem, na 2ª edição do Curso de Especialização em Docência na Educação Infantil, um bem sucedido experimento da UFRGS/MEC.
Dessa experiência – a disciplina Linguagem, Oralidade e Cultura Escrita – surgiram dois livros digitais: ABC (um abecedário com todos os estudantes envolvidos no experimento) e Em busca de Estrelas, uma reunião de pequenos textos narrativos.
Aqui, publicizo parte dessas duas produções que possuem ficha cartalog´rafia e podem ser inseridas nos currículos de meus alunos, na ocasião. Para receber as obras na íntegra, envie um email para mim.
Em Busca de Estrelas
As palavras, evidências de nossa humanidade, tornam-se, cada vez mais rapidamente, pontes. Em torno delas, as mais variadas paisagens indicam de onde viemos e para onde desejamos ir. Escrever, então, é deixar marcas. Pegadas, como as encontradas pelo personagem Levain, de O planeta dos Macacos (2015, p.27), em sua primeira incursão em Soror, um dos planetas de Betelgeuse – estrela de primeira grandeza da Constelação de Órion. Essas marcas, datadas, indicam nossa passagem pela linguagem – o tanto próximos que estamos dela – em um tempo único: o ano de 2015, que rapidamente de esvai, como areia fina nas mãos.
As histórias, inventadas, passam a existir pelas palavras. Cada uma delas, oriundas de uma palavra também inventada, foi escolhida para produzir mais e mais: palavras, sentidos, inventos. Escrever, então, é inventar. Ao escrever depois de ler os contos escritos por outro, a cada um coube um tantinho de emoção. Lado a lado com a emoção antecipadamente vivida, escrever tornou-se pertencer.Em uma mesma trincheira, autores em busca de um mesmo fim: emocionar. Escrever, por fim, é permanecer. Que as palavras – e todos os seus sentidos aqui inscritos – permaneçam.
O livro digital Em busca de Estrelas foi uma das proposições da disciplina Linguagem, Oralidade e Cultura Escrita inserida na 2º edição do Curso de Especialização em Docência na Educação Infantil, um bem sucedido experimento da UFRGS/MEC realizado nos anos 2015-2016.
Acredito que “na cultura escrita, a literatura, por ser expressão máxima da arte de pensar e escrever, é que nos possibilita conhecer e refletir sobre o mundo e as pessoas, de forma livre e, por isto, sua leitura favorece o desenvolvimento da crítica e da criação”. Assim, a tarefa aos estudantes foi: Ler três contos escritos pela professora; Escrever uma narrativa a partir de palavras inseridas nos contos; Ler em voz alta o escrito aos colegas; Permitir sua publicação no formato Livro Digital.
O livro foi organizado por ordem alfabética de autores, foi corrigido segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (2009), não tem fins lucrativos e está sendo disponibilizado pelos autores a seus amigos, colegas, professores e público em geral.


ABC: um abecedário da turma.
Gênero literário da Literatura Infantil com características lúdicas Bordini (2011), Abecedários, cartas de ABC e silabários foram utilizados para ensinar a ler e escrever nas escolas brasileiras até meados do século XX. Segundo Frade (2010), Cartas de ABC são materiais que ainda circulam, mas em circuitos paralelos ao da escola, pois esta é a guardiã das formas de transmissão da cultura escrita. 
De acordo com BOTO (2004, p.495), o termo cartilha constitui um desdobramento da palavra “cartinha” que, por sua vez, era usada para identificar aqueles textos impressos cujo propósito explícito seria o de ensinar a ler, escrever e contar. Apresentavam usualmente o abecedário, a construção das palavras e suas subdivisões, alguns excertos simples com conteúdos moralizadores, quase sempre precedidos de excertos de orações ou de salmos.
A palavra cartilha, remonta às situações corriqueiras e freqüentes: até o século XIX, boa parte dos textos escritos que as crianças traziam de casa para utilizar na escola eram manuscritos; dentre esses, as cartas eram uma fonte privilegiada... Muitos eram os meninos e meninas que, em Portugal, aprenderam a ler inicialmente mediante a leitura de cartinhas...
À semelhança e por analogia, elabora-se – para os primeiros textos impressos com a finalidade alfabetizadora – a expressão “cartinha de leitura”. Daí vem a “cartilha”. Cartilhas, manuais escolares ou livros didáticos integraram o conceito de escolarização e podem ser considerados partícipes do universo cultural da escola e mesmo da sociedade como um todo.
Um dos exemplos é a longevidade da cartilha Arte da Leitura do poeta português João de Deus, a primeira a ser utilizada no Brasil (MORTATTI, 2000). Em seu conteúdo, letras, sílabas, palavras e poemas em uma ordem diferente da alfabética. Ao final, um texto poético mais longo e tabelas de adição, subtração, multiplicação e divisão. Foi adotada nas escolas públicas do Brasil desde 1876 (MORTATTI, 2000) e no RS, editada em Porto Alegre pela Editora Selbach.
Para Ferreira (2008, p. 35), o livro didático é “depositário de um conteúdo que, antes de tudo, tem o papel de transmitir às jovens gerações os saberes e as habilidades que, em uma dada área e um dado momento, são julgados indispensáveis à continuidade de uma sociedade”. Para a estudiosa, “trata-se, ao mesmo tempo, de um instrumento ideológico, pedagógico e socializador” e, por ser um “instrumento do universo cotidiano da vida escolar, a produção desse material atinge educadores, alunos e familiares, autores, editores, intelectuais e autoridades políticas.
Se, para o Estado, a organização e monitoramento dessa produção representa o controle ideológico, para as editoras, os livros didáticos são produtos economicamente rentáveis” (FERREIRA, 2008, p. 35). E para o professor, o que significa o livro didático? Ele pode ser um produto de seu projeto pedagógico?

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Alfabeteando...

Um "Alfabeto à parte" foi criado em setembro de 2008 e tem como objetivo discutir a leitura e a literatura na escola. Nele disponibilizo o que penso, estudos sobre documentos raros e meus contos, além de uma lista do que gosto de ler. Alguns momentos importantes estão aqui. 2013 – Publicação dos estudos sobre o Abecedário Ilustrado Meu ABC, de Erico Verissimo, publicado pelas Oficinas Gráficas da Livraria do Globo em 1936; 2015 – Inauguração da Sala de Leitura Erico Verissimo, na FaE/UFPel; 2016 – Restauro e ambientação da Biblioteca na Escola Fernando Treptow, inaugurada em 25 de novembro; 2017 – Escrita da Biografia literária de João Bez Batti, a partir de relatos pessoais. Bilíngue – português e italiano – tornou-se um E-Book; 2018 – Feira do Livro com Anna Claudia Ramos (http://annaclaudiaramos.com.br/). 2019 – Produção de Íris e a Beterraba, um livro digital ilustrado por crianças; 2020 – Produção de Uma quarentena de Receitas, um livro criado para comemorar a vida; 2021 – Ruas Rosas e Um abraço e um chá, duas produções com a UNAPI; 2022 – Inicio de Pesquisa de Pós-Doutorado em acervos universitários. Foco: Há livros literários para crianças que abordem o ECA? 2023 – Tragicamente obsoletos: Publicação de um catálogo com livros para a infância.

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